VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER
A violência contra a mulher é crime; a criminalização do abôrto é uma violência contra a mulher.
quinta-feira, 17 de janeiro de 2013
Há seis anos o governo brasileiro lançou o primeiro Plano Nacional de Políticas para as Mulheres,
produto da Primeira Conferência Nacional de Políticas para as Mulheres. Um dos itens deste Plano foi o
encaminhamento, através da então Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres (hoje SPM), de uma
proposta para a revisão da Lei que pune o aborto no Brasil. Foi composta uma Comissão Tripartite que
formulou um anteprojeto, entregue pela ministra Nilcéa Freire à Comissão de Seguridade Social e Família da
Câmara em setembro de 2005. Este episódio é parte do processo contemporâneo de gestões democráticas,
um processo que traz avanços mas gera também, na sociedade brasileira, reações conservadoras aliadas
ao fundamentalismo religioso.
O projeto de lei pela descriminalização do aborto foi rejeitado em duas comissões da Câmara Federal.
O Governo assinou o Acordo Brasil Vaticano estabelecendo vínculos inaceitáveis para um Estado
constitucionalmente Laico. O III Programa Nacional de Direitos Humanos foi censurado pela CNBB e o
Governo cedeu, retirando do texto o conteúdo sobre descriminalização do aborto que se pautava nos direitos
das mulheres. Nas Eleições 2010 a presença de acordos com segmentos religiosos, oficiais e de bastidores,
resultaram em uma pressão jamais vista desde a abertura política. São acordos inaceitáveis em que a
autodeterminação das mulheres sobre seu corpo foi posta como moeda de troca, desconsiderando direitos
reprodutivos já assegurados. Esta postura não combina com a nação que tem hoje peso e respeitabilidade
internacional, e que desempenhou papel importante na assinatura de acordos neste âmbito.
A lei atual é retrógrada. Criminalizar o aborto não inibe a prática clandestina, embora o recurso ao estouro de
clínicas venha sendo cada vez mais utilizado para alimentar a cultura e a política pública da criminalização.
Há com isto uma situação imoral de descaso pela vida das mulheres, em sua maior parte negras e pobres,
que morrem no contexto de clandestinidade.
No Legislativo Federal novos projetos de lei traduzem a pauta conservadora em políticas estranhas à
democracia e à razão pública, como por exemplo o registro compulsório da gravidez, a chamada bolsaestupro e o Estatuto do Nascituro.
Este documento tem o objetivo de apoiar o trabalho de jornalistas que pretendam lançar luzes sobre este
assunto. Foi elaborado com base em fontes oficiais, de governos e institutos de pesquisa nacionais e
internacionais, trazendo informações que poucas vezes estão na agenda pública. Para além dos dados,
indicamos fontes especializadas de forma a colaborar com possíveis matérias/reportagens.
Esperamos assim contribuir com a imprensa em sua cobertura e também reforçar oportunidades de
interlocução.
Recife, fevereiro de 2011
Paula Viana (Secretária Executiva das Jornadas Brasileiras pelo Direito ao Aborto Legal e Seguro)
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